"Mas
os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas
concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque
o amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males; e nessa cobiça
alguns se desviaram da fé, e se traspassaram a si mesmos com muitas
dores." (grifo meu)¹
“Ô
menino, vá lavar as mãos! Dinheiro é sujo, você não sabia...?” - “Olhe para os
herdeiros e veja como brigam que nem leões por um pedaço de carne. Se não fosse
a herança, já teriam se entendido.” – “O melhor mesmo é ter paz interior e não
se preocupar com dinheiro...” – “Melhor ter pouco dinheiro e ser feliz, que
muito e ser infeliz.” – “Sinto-me mal por ter tanto e tantos não terem nada...”
– “Dinheiro não compra felicidade...” – “Se você gostar de gastar nunca vai ter
nada na sua vida!” – “Dinheiro não é o mais importante, o mais importante é o
amor.” – “Mais dinheiro só lhe trará mais preocupação...”
O
que será que essas frases têm em comum? Pare e pense por um instante... todas
refletem uma realidade vivida repetidas vezes por muitos de nós na medida em
que lidamos ou falamos de dinheiro. Ouvimos que ele não compra a felicidade ou
que é menos importante que o amor e até concordamos. Mas vale dizer que a
felicidade, o amor e o dinheiro são entidades completamente diferentes em
natureza, embora possam se complementar mutuamente. É interessante que muitos
falam que o dinheiro aprisiona, já que vivemos num mundo onde se precisa cada
vez mais tê-lo para satisfazer à necessidade de “ser”, que na lógica
capitalista se traduz em “ter”.
Muitas
vezes ouvimos dizer que o dinheiro pode trazer maldições, ouvimos sobre casos
de pessoas que ganharam na loto e foram assassinadas... ou que voltaram a ser
pobres após um curto período de bonança. Isso nos assusta e nos faz pensar que
é melhor passar longe do dinheiro, afinal, comumente se morre por ele.
O
grande problema é que nos deparamos com necessidades reais de dinheiro quando
chega a vida adulta, de sorte que, ou o temos e pagamos as contas em dia, ou
não o temos, tornando-nos devedores. Aí sim, vivemos um pesadelo por não dispor
dele... por não termos o “tão mal falado dinheiro”.
Se
o dinheiro realmente é ruim, porque será que ele vem em forma de pagamento pelo
trabalho de alguém? Você trocaria sua preciosa energia de trabalho por algo que
não valesse à pena de jeito nenhum? (Pense um pouco...) – Nem eu. Afinal, de
que valeria trabalhar para se ter algo ruim em troca.
Talvez
você já tenha compreendido aonde pretendo chegar. Falamos mal de dinheiro de
forma corriqueira, mas precisamos dele para comer, para beber, para nos
mantermos sãos, para construirmos casas, apartamentos, hospitais, escolas,
igrejas (e até mesmo para manter partidos políticos, que controverso, não?).
Mas você pode dizer que ele também aprisiona pessoas em trabalho escravo,
favorece o crescimento dos prostíbulos com menores, financia o tráfico de
drogas (para se ganhar mais dinheiro sujo) e está ligado aos figurões mais
corruptos de nosso país. Tudo isso é verdade, mas não muda o fato que em nossa
sociedade, sem dinheiro é bem difícil de viver ou de realizar qualquer coisa
que seja.
Outro
dia fui passear no Jardim Botânico, que é público, sabe o que aconteceu?
Precisei pagar para entrar (num lugar público, acredita?). Fui estacionar o
carro, sabe o que aconteceu? Precisei pagar para deixar meu carro dentro de um
local público novamente... Vejam como precisamos do famigerado dinheiro para
viver... Sim, pois já se passou o tempo em que se faziam trocas (escambo) no
ocidente. Hoje paga-se com a moeda corrente do país, com cartões de crédito, débito,
cheques etc.
Sabe
o que mais? Quando você se aposentar não vai querer ficar dependendo dos seus
filhos. Pois bem, para que isso aconteça é melhor que você se programe desde
já, afinal, podemos estar vivendo o presente sem pensar no futuro. Mas você
pode dizer que irá para o céu quando morrer (acho isso muito legal e torço para
que aconteça), mas enquanto esse dia não chegar (e não sabemos a hora e nem a
data, há menos que você se mate) você precisará continuar comprando comida no
supermercado, pagando as contas de luz, comprando roupas, calçados, pagando
para ter um carro ou para que lhe transportem num taxi ou ônibus... Enfim, até
partirmos dessa vida (ocidental e capitalista) precisaremos usar o tal
dinheiro, que é sujo, que é pagão, que é a razão da destruição de famílias,
colocando irmão contra irmão, que compra e distribui drogas, que é comumente
desviado dos cofres públicos para fins escusos, mas que no final, ainda poderá
nos pagar um enterro minimamente digno.
Como
escapar dessa sina? Não sei. O fato é que “trabalharei para tê-lo a fim de
nunca precisá-lo”. Claro que vou usá-lo e procurarei sempre ajudar as pessoas
que dele precisando cruzarem o meu caminho, mas manterei a clarividência de que
não é o ele quem mata, não é ele quem destrói famílias, não é ele quem inventa
novas, mais potentes e viciantes drogas e nem é ele sinônimo de desgraça.
Falamos, na verdade, das intenções humanas mais íntimas, aquelas que partem do
coração (ou do inconsciente freudiano) e que contaminam o caráter, gerando um
mundo menos justo e mais desigual, menos humano e mais material. Essas sim, são
as verdadeiras causas das desgraças e imoralidades praticadas por aqueles que
amam mais o dinheiro do que as pessoas e, até mesmo, a própria vida.
Se
entendemos que o dinheiro hoje representa as riquezas materiais de alguém, a
própria Bíblia diz que Deus é dono da prata e do ouro². Ora, a prata e ouro
desde os tempos remotos têm sido tratados como tesouro e se Deus tem essas riquezas,
é porque elas devem ser boas e não más, já que nEle não poderia haver maldade.
O
fato de o dinheiro ser o principal culpado, pode ser explicado. É sempre mais
fácil deslocarmos o problema para algo exterior a nós mesmos, projetando sobre
este fator externo as nossas próprias motivações ou conflitos, mecanismo que Freud
chamou de projeção. Ou seja, se projeto no dinheiro o caráter de mau,
automaticamente eximo-me da responsabilidade atrelada ao caráter de ser mau.
Talvez, por isso, tenhamos essa dificuldade de pensar sobre nossos próprios
atos e quem somos de fato.
Acredito
que o dinheiro é semelhante à política, ou seja, em essência não é bom, nem
mau, mas sempre poderá adquirir diferentes significados a partir da ação
exercida por quem o tem. O uso que se faz dele pode construir significados
diversos para quem o gasta, para que se beneficia dele e para quem observa “o
fenômeno do capital”.
Antes
de terminar, quero deixar-lhe uma última reflexão. Gosto de pensar que cada um
de nós é especial e está no mundo para uma missão única e intransferível, não
apenas para existir. Portanto, exista com vontade, com intensidade. Inspire,
sinta o ar preencher seus pulmões... sinta-se vivo, viva. Busque por seus
sonhos como quem busca água num dia quente, pois lhe ajudarão a caminhar e a
gastar o seu dinheiro com o que realmente valha a pena.
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Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMari, obrigado pelo comentário. Sim, sem dúvida o dinheiro faz parte das nossas vidas. Não que ele seja o mais importante na vida, mas não podemos dizer que também é o que menos importa... Um abraço e um ótimo fim de semana.
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