Excesso de categorias reflete preocupação com investidor (Matéria do Valor Econômico, 09/05/2012)
A extensa e detalhada classificação de fundos feita pela
Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de
Capitais (Anbima) atende principalmente ao gestor, diz Ricardo Humberto
Rocha, professor de finanças da Fundação Instituto de Administração
(FIA).
"Ela [a classificação] diz o que significa estar naquele fundo em
termos de ativos e de riscos corridos pelo gestor e isso é importante
porque seria um elemento de controle, de auditoria, de autorregulação da
própria Anbima", afirma Rocha, admitindo que o problema envolve o
investidor pessoa física, que ainda está num processo de aprendizado.
Para Rocha, mesmo atendendo sobretudo o gestor, o sistema, no fim das
contas, visa proteger o pequeno investidor. "Mesmo que se faça uma
revisão na classificação dos fundos, sempre a primeira abordagem vai
parecer meio sofisticada. E, de fato, é mesmo, não é um produto
trivial", diz.
O gerente de produtos da Western Asset, Marcelo Guterman, também entende que a ideia dos representantes da indústria - desde a primeira tentativa de classificação - é tornar o investimento o mais transparente possível ao investidor. "A classificação atual pode não ajudar, mas eu não acho que atrapalhe. É como bula de remédio, com aquelas coisas todas escritas. Não ajuda, mas eu tomo o remédio", diz o gerente da Western Asset.
Guterman avalia, no entanto, que a preocupação com a transparência
acabou levando o autorregulador ao detalhamento extremo. "Notou-se, por
exemplo, que alguns multimercados da categoria 'long and short' [fundo
que monta posições compradas e vendidas em bolsa] tinham posição ativa
em bolsa e outros não e logo pensaram em avisar o investidor desta
diferença, criando uma categoria 'direcional' e outra 'neutra'", afirma.
A sopa de letrinhas - e a dificuldade de explicá-la - dá uma noção de
que as intenções positivas no sentido de dar mais transparência à
indústria nem sempre se traduzem em uma melhor compreensão dos produtos
pelo investidor. Que o diga o psicólogo Daniel Fonteles. Embora afirme
que a profusão de categorias de fundos não atrapalhe suas decisões de
investimento, pois sempre optou por avaliar diretamente os prospectos
dos fundos, o investidor de 35 anos diz que a experiência para muitos é
diferente.
Em conversas com amigos e familiares com recursos em fundos, ele
chegou à conclusão que a classificação atual serve mais como uma
barreira ao investidor leigo do que propriamente como um mecanismo de
esclarecimento. "Parece que o investidor precisa ser um pequeno 'expert'
para poder escolher o fundo apropriado as suas necessidades, o que não é
exatamente verdade".
Nos longos debates que tem especialmente com o cunhado sobre o universo dos fundos, Fonteles diz que sai com a impressão de que o excesso de informações traz uma maior dificuldade ao investidor no momento de decidir para onde vai o seu dinheiro. "É um cuidado, mas que pode acabar confundindo".
Para Rocha, da FIA, a saída para tudo isso é investir em um ativo
diferente: a educação. "Vejo alguns anos para que o investidor de varejo
tenha uma melhor compreensão sobre investimentos, embora existam
exceções, como o público mais jovem, que tem mais curiosidade", diz.
Guterman, da Western Asset, concorda. "Talvez o sistema de
classificação possa se sofisticar à medida que o tempo for passando e
não tentar fazer tudo de uma vez", conclui.
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Olá Daniel! Parabéns pela matéria e pela projeção que está atingindo! Rafael
ResponderExcluirObrigado, Rafael! Sei que pode soar clichê, mas há quem diga que foi por acaso...
ExcluirConsidero um elogio seu muito valioso.
Fraterno amplexo e ótimos investimentos!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMari, obrigado pelo comentário... acho que você deve ser minha leitora mais assídua. Não é complicado. É assim: o órgão que regulamenta os fundos de investimentos tem uma diversidade de tipos de fundos muito grande, muito bem caracterizados tecnicamente. A questão é se essa caracterização é excessiva e prejudicial para quem quer entender o assunto, como você e eu.
ExcluirUm abraço e ótimos investimentos.