quarta-feira, 9 de maio de 2012

VALOR ECONÔMICO - Excesso de categorias reflete preocupação com investidor

Excesso de categorias reflete preocupação com investidor (Matéria do Valor Econômico, 09/05/2012)

Classificação das carteiras de acordo com os ativos busca transparência, mas atende mais às necessidades dos gestores de recursos. Por Flávia Lima, São Paulo.
Regis Filho/Valor / Regis Filho/Valor 
O investidor Daniel Fonteles: "Parece que o investidor precisa ser um pequeno 'expert' para poder escolher o fundo apropriado, o que não é exatamente verdade".



A extensa e detalhada classificação de fundos feita pela Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) atende principalmente ao gestor, diz Ricardo Humberto Rocha, professor de finanças da Fundação Instituto de Administração (FIA).

"Ela [a classificação] diz o que significa estar naquele fundo em termos de ativos e de riscos corridos pelo gestor e isso é importante porque seria um elemento de controle, de auditoria, de autorregulação da própria Anbima", afirma Rocha, admitindo que o problema envolve o investidor pessoa física, que ainda está num processo de aprendizado.

Para Rocha, mesmo atendendo sobretudo o gestor, o sistema, no fim das contas, visa proteger o pequeno investidor. "Mesmo que se faça uma revisão na classificação dos fundos, sempre a primeira abordagem vai parecer meio sofisticada. E, de fato, é mesmo, não é um produto trivial", diz.

O gerente de produtos da Western Asset, Marcelo Guterman, também entende que a ideia dos representantes da indústria - desde a primeira tentativa de classificação - é tornar o investimento o mais transparente possível ao investidor. "A classificação atual pode não ajudar, mas eu não acho que atrapalhe. É como bula de remédio, com aquelas coisas todas escritas. Não ajuda, mas eu tomo o remédio", diz o gerente da Western Asset.

Guterman avalia, no entanto, que a preocupação com a transparência acabou levando o autorregulador ao detalhamento extremo. "Notou-se, por exemplo, que alguns multimercados da categoria 'long and short' [fundo que monta posições compradas e vendidas em bolsa] tinham posição ativa em bolsa e outros não e logo pensaram em avisar o investidor desta diferença, criando uma categoria 'direcional' e outra 'neutra'", afirma.

A sopa de letrinhas - e a dificuldade de explicá-la - dá uma noção de que as intenções positivas no sentido de dar mais transparência à indústria nem sempre se traduzem em uma melhor compreensão dos produtos pelo investidor. Que o diga o psicólogo Daniel Fonteles. Embora afirme que a profusão de categorias de fundos não atrapalhe suas decisões de investimento, pois sempre optou por avaliar diretamente os prospectos dos fundos, o investidor de 35 anos diz que a experiência para muitos é diferente.

Em conversas com amigos e familiares com recursos em fundos, ele chegou à conclusão que a classificação atual serve mais como uma barreira ao investidor leigo do que propriamente como um mecanismo de esclarecimento. "Parece que o investidor precisa ser um pequeno 'expert' para poder escolher o fundo apropriado as suas necessidades, o que não é exatamente verdade".

Nos longos debates que tem especialmente com o cunhado sobre o universo dos fundos, Fonteles diz que sai com a impressão de que o excesso de informações traz uma maior dificuldade ao investidor no momento de decidir para onde vai o seu dinheiro. "É um cuidado, mas que pode acabar confundindo".

Para Rocha, da FIA, a saída para tudo isso é investir em um ativo diferente: a educação. "Vejo alguns anos para que o investidor de varejo tenha uma melhor compreensão sobre investimentos, embora existam exceções, como o público mais jovem, que tem mais curiosidade", diz.

Guterman, da Western Asset, concorda. "Talvez o sistema de classificação possa se sofisticar à medida que o tempo for passando e não tentar fazer tudo de uma vez", conclui.

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